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Colocando as cartas na mesa (Clarisse e Alex pt5)

Olá a todos! Parece que foi ontem que postei a quarta parte da história de Clarisse e Alex aqui (um título seria bom, não? Mas deixa quieto...) e já é hora de mais dessas duas aqui neste blog! Na verdade, o conto de hoje poderia nem ser classificado como Clarisse e Alex, já que a dupla em foco não é bem esta mas. . . Enfim, vocês já vão ver. Será um bom capítulo para quem havia adorado a participação da Jenifer, lá na segunda parte!

Gostaria muito de agradecer a todos que estão acompanhando a história. Nós apreciamos e respeitamos todos os comentários, críticas e sugestões com muita alegria, pois nosso objetivo é, dentro das nossas possibilidades, sempre melhorar sem perder nossa identidade. Espero que continuem gostando desta saga que foi crescendo enquanto era publicada aqui no KaS.

E chega de enrolação. Vamos a mais uma parte da história!

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Colocando as cartas na mesa
por Lilian Kate Mazaki


O som da televisão era tudo o que preenchia a pequena sala do apartamento de Clarisse. O canal esportivo transmitia um campeonato de ginástica olímpica ao vivo dos Estados Unidos. Em um dos breves intervalos entre a realização de exercícios em diferentes aparelhos a jornalista aproveitava para separar algumas cervejas guardadas no freezer, passando-as para uma pequena caixa de isopor. Pretendia deixar a recipiente sobre a mesa de centro, entre o sofá e o televisor, para não mais precisar se levantar até o final da competição.
Era quarta-feira e beber sozinha em casa estava longe de ser um hábito seu, mesmo durante noites quentes do verão, porém seus ânimos pediam uma dose generosa de álcool.
Desde o "desastre", como apelidara conversa com Alex na Cafeteria Vintage, a redatora estava sentindo-se a pior das pessoas. Era uma culpa tremenda pensar que deveria ter deixado sua amiga mal com as palavras covardes que jogara sobre esta.
Claro, as duas ainda trabalhavam no mesmo andar do prédio da editora. Alex passava por ela e Ricardo todos os dias, cumprimentando normalmente. Porém a fotógrafa recusara os convites para almoçar que Ricardo lhe fizera na primeira metade da semana. Alex também vinha saindo pontualmente às quatro e meia da tarde, sem dar chance para ser convidada para um happy hour. Clarisse também não a havia visto sair para almoçar no horário comum, como vinha fazendo desde que entrara para o departamento.
Sim, Alex estava claramente a evitando. A única comunicação entre as duas havia se dado ainda no sábado da dita conversa, quando a morena enviara uma mensagem curta pelo celular:
"Quando estiver segura, vamos conversar de novo."
― Eu sou uma imbecil. ― disse Clarisse a si mesma, atirando o saco de gelo vazio na lixeira da cozinha estilo americano do seu apartamento. Com ambas as mãos ela ajeitou as cinco latas de cerveja no gelo quando ouviu o toque da campainha.
Aguardou, secando as mãos em um pano sobre o balcão. Não conseguia imaginar quem poderia ser. Talvez Ricardo, o rapaz era expert em detectar quando Clarisse estava ruim e costumava aparecer nesses momentos para distraí-la. Alex não tinha ainda seu endereço, então ela descartou de automático essa possibilidade.
Outro toque na campainha. Clarisse caminhou até a entrada e viu uma mulher desconhecida pelo olho mágico. Abriu a porta com uma expressão interrogativa:
― Ah, olá. ― cumprimentou a desconhecida. ― Você é Clarisse, certo?
― Sim. E você? ― perguntou a jornalista, observando a figura da outra de cima a baixo.
― Jenifer. Sou uma amiga da Alex. ― disse a designer. Clarisse não conseguiu deixar de notar o conjunto jeans escuro de saia e jaqueta, uma blusinha com temas tecnológicos por baixo que esta vestia.
Clarisse abriu e fechou a boca duas vezes sem dizer nada. Não poderia ser a visita mais inesperada, ela pensou de imediato:
― Será que poderia me convidar para entrar? Gostaria de ter uma conversa não muito demorada, mas que seria melhor não ter no corredor do seu prédio. ― pediu Jenifer, portando um sorriso perene que incomodava um pouco a outra.
― Claro, sim. Por favor. ― respondeu Clarisse, abrindo a passagem para a outra que prontamente entrou. Clarisse fechou a porta e virou-se para a convidada. Esta já caminhava até o balcão da sua cozinha.
― Ora, eu ia mesmo perguntar se não tinha alguma coisa para tomarmos. ― disse Jenifer, puxando um dos banquinhos do lado externo do balcão e sentado-se. Sem cerimônia ela alcançou uma das latas de cerveja e abriu, catando também um copo para servir-se.
― Ah. . . ― Clarisse não sabia como reagir àquela invasão feita com tanta naturalidade. Não era do seu feitio ser grosseira, mas não tinha amigos tão folgados assim. ― Quer alguma coisa para comer? ― perguntou, de modo automático.
― Hm? Não, não. ― disse Jenifer, depois de um longo gole de bebida. ― Só senta aqui do lado. Não gosto de enrolar, então vamos direto ao ponto. ― e apontou para o outro banquinho.
Clarisse sentou e Jenifer, catando outro copo limpo, serviu-lhe a metade restante na lata aberta. A redatora não bebeu, apenas ficou fintando a outra:
― Então. ― começou Jenifer, parecendo desapontada que Clarisse não houvesse bebido. ― Como deve imaginar, estou aqui por causa da Alex. A minha questão é: você sabe exatamente por que estou aqui?
Clarisse hesitou antes de falar:
― Não quer que eu me aproxime da Alex? ― disse, expondo a única coisa que veio ao seu pensamento. Para sua surpresa Jenifer deu uma gargalhada de divertimento puro àquelas palavras.
― Claro que não! Tá me achando com cara de alguma vilã de novela das vinte e uma? ― riu-se a mulher de cabelos tingidos. ― Ou você é muito negativa ou estou precisando mudar a cor da cabeça. Talvez um rosa ou azul celeste. Azul é uma boa, na verdade.
― Mas então. . . ― começou Clarisse, confusa, porém sem conseguir formar a pergunta.
― Eu sou amiga da Alex. Tá certo que a gente às vezes dorme juntas e fazemos um sexo excelente, mas ainda assim somos amigas! ― disse Jenifer, pausando para um gole de cerveja. ― Sabe, garota, eu estou torcendo para que a Alex fique numa boa. É por isso que estou aqui.
― Como é? ― perguntou Clarisse, ainda mais confusa.
― Olha, Clarisse, é assim: eu senti que nos últimos dias alguma coisa tem deixado a Alex meio chateada e presumo que isso queira dizer que as coisas não estão caminhando muito bem, ou muito rápido entre vocês. Estou errada?
― Er. . . Entre nós? Mas nós não. . .
― Exato! Vocês não! ― exclamou Jenifer. ― Me diz a real Clarisse: você é afim da nossa Alex, não é?
― Ah. . . E-Eu. . .
― Putz, tá na cara que você é um daqueles casos severos de "me deixe em paz no meu armário!" ― disse a designer, apertando os braços contra o próprio corpo, numa imitação de pessoa presa em um lugar apertado. ― Gata, você já tá perto dos trinta e ainda tá nessa?!
― Eu não. . . ― tentou argumentar Clarisse, irritada e desesperada com aquela pressão, mas Jenifer não iria deixá-la falar.
― Não? Vai querer me convencer que não tem certeza de que é lésbica, é isso?!
― S-Se me deixar falar, Jenifer, eu. . . ― tentou começar Clarisse, porém ela acabou se calando quando a outra tocou nos seus lábios com o indicador para mantê-los fechados.
― Não preciso escutar esses seus argumentos, fofa. Você está sendo mais óbvia do que "blockbusters hollywoodianos". ― disse Jenifer, encarando-a mais de perto. ― Quando eu ver que você não vai usar uma dessas frases feitas que nós duas sabemos que não refletem em nada sua realidade eu vou te deixar falar.
Dessa vez Clarisse não tentou contra-argumentar de imediato. Esperou e Jenifer tirou o dedo da frente dos seus lábios e serviu-se de uma uma lata de cerveja:
― Então? ― perguntou esta, depois de um gole, olhando de lado para a jornalista.
― Droga. ― disse Clarisse, num suspiro, e tomou todo o seu copo de uma só vez. ― Eu só estou confusa com tudo isso. Nunca pensei em mim como uma. . . A Alex foi a única por quem eu já senti isso e, pra dizer bem a verdade, eu sequer havia parado para pensar no que era isso, mesmo depois de tanto tempo.
― Lésbica.
― O que? ― perguntou Clarisse, sem entender.
― Lésbica. Você pulou a palavra. Tem que começar perdendo o medo de dizer. ― explicou-se a designer. ― Me diz uma coisa: você teve alguns caras nesses anos, não?
― Sim, eu. . .
― E sentia que faltava alguma coisa, não? ― perguntou Jenny, observando o seu copo vazio pela metade, distraída. ― Minha primeira vez foi com um cara. Eu só queria acabar aquilo e ir pra casa.
Clarisse não teve reação por um momento. Achava intrigante como aquela até então desconhecida conseguia despertar sua simpatia com aquela sinceridade bombástica:
― Não era tão ruim assim.
― Mas também não era tão bom assim, aposto.
― Talvez.
Sem dizer nada, Jenifer levantou do banquinho e rodeou Clarisse, passando os braços pelos seus ombros e puxando-a:
― Você é fácil de entender, Clarisse. ― disse, falando mais baixo, perto da orelha direta da outra. ― A única diferença entre nós é a sua incrível capacidade de acomodar-se em uma vida que no fundo sabe que não serve pra você.
― N-Não é assim tão simples. ― murmurou Clarisse, mas Jenifer riu-se de leve.
― É mesmo? E como você vai argumentar que não é uma pessoa simples de entender se eu sei que nesse exato momento você está prestando mais atenção na sensação dos meus peitos pressionando as tuas costas do que no que eu falo? ― questionou a designer e Clarisse afastou-se desajeitada, sem porém conseguir disfarçar a falta de jeito.
"Olha, Clarisse, eu vou ser bem direta agora: desde que conheci a Alex eu sei que ela é apaixonada pela colega de faculdade. Confesso que acho quase doentio alguém conseguir manter-se apaixonado mesmo passando anos sem nem falar com a pessoa, mas isso não vem ao caso."
"A questão é que eu não quero que você faça a nossa Alex sofrer. Ela já passou maus bocados durante todo esse tempo. Não é agora que enfim vocês se reencontraram e blá-blá-blá que você vai amarelar e fazer ela ficar mal."
"Você é uma de nós e sabe disso. Então, se está assustada ou qualquer dessas outras coisas que gente que fica no armário diz que sente, apenas vá e fale abertamente com a Alex."
Clarisse estava atônita com aquela torrente definitiva de verdades vindas daquela mulher. Jenifer percebeu aquele momento de suspensão da outra e tomou uma atitude radical: deu três passos à frente e segurou os ombros de Clarisse e roubou-lhe um beijo:
― E-Ei! ― exclamou Clarisse, chocada. ― É assim que quer ajudar sua amiga?!
― Só estou te dando o empurrão, filha. ― disse Jenifer, com um sorriso. ― Não precisa se preocupar. Mesmo que fosse fácil te levar para a cama eu jamais tiraria sua primeira vez da nossa Alex.
Clarisse teve vontade de sumir diante daquela declaração tão clara da outra. Sentiu-se quente e teve certeza de que seu rosto deveria estar em brasas:
― Heh, você é tão fofa. ― comentou Jenny. ― Dá pra entender porque a Alex é tão caidinha por você.
― E-Eu. . . ― gaguejou Clarisse que não conseguia esquecer que ainda estava presa nos braços da outra.
― Hm? ― já Jenifer não parecia se importar muito em manter um diálogo amistoso de uma distância tão curta.
― Eu não consigo te entender, Jenifer.
― Ora, eu só sou uma pessoa sincera e prática. ― disse a outra, abrindo ainda mais o sorriso. ― Bom, melhor te soltar antes que seja você quem queira ser levada para a cama, né. ― continuou, enfim livrando Clarisse do seu abraço. ― Sabe, tem uma garota que estou saindo agora. . . Eu fui a primeira mulher dela e, bom, é mesmo uma coisa bem bacana. . . Ensinar como duas garotas fazem para se divertir sozinhas, enfim. . . Bom, acho que a Alex vai te ensinar isso muito bem.
Clarisse mais uma vez não teve palavras para comentar aquela pequena revelação dita com tanta casualidade. Jenifer por sua vez alcançou seu copo sobre o balcão e o esvaziou antes de tomar o caminho da saída. Sem esperar ser acompanhada pela dona da casa destrancou a porta e só virou-se quando Clarisse enfim disse algo:
― Como você conseguiu meu endereço? ― foi o que esta perguntou. Jenifer abriu seu sorriso mais uma vez.
― Se você fosse uma pessoa mais "pra frente" como eu, saberia que ter papo pode te levar a qualquer lugar. ― foi o que respondeu.
― Você quer dizer uma pessoa atirada, não?
― Atirada? Nada disso. Não é só porque eu tenho coragem de dizer coisas como: "Eu sei que você vai ter um sonho molhado comigo essa noite, sua virgem de mulheres," que posso ser considerada atirada.
― E-Ei! Eu não. . .
― Até outro dia, Clarisse. ― despediu-se Jenifer, cortando a outra mais uma vez, fechando a porta em seguida.




Clarisse olhou para a calmaria reestabelecida na sua sala e suspirou. Sentou-se em um dos banquinhos e olhou para o copo vazio. Sua mente começou a reviver algumas passagens da conversa de pouco antes:
― Droga, me apertar e beijar também foi apelação, sua vaca.

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