Posted by : LKMazaki terça-feira, 9 de setembro de 2014

Olá a todos! Cá estamos com a terceira parte da história de Clarisse e Alex aqui no Kono-ai-Setsu. Gostaria de agradecer ao feedback positivo nos comentários e diretamente a mim nas redes. Todos vocês que deixam opiniões me motivam muito a trazer mais partes da história.

Sobre esta terceira parte acredito de verdade que seja uma das menos empolgantes da história inteira, mas é também fundamental para formar todo o contexto do enredo envolvendo Alex, a fotógrafa descolada, e Clarisse, a redatora com uma capacidade gigantesca de enganar a si mesma sobre seus sentimentos.

De qualquer modo, espero que apreciem mais esta história. Daqui a duas semanas, tem mais.

Boa leitura!



Para além das tolas vontades
por Lilian Kate Mazaki




Tiago Siqueira era um jovem e promissor advogado. Trabalhava nove horas por dia no escritório montado por seu pai, a mais de vinte anos. Seus ternos estavam sempre alinhados e sua mesa mantinha-se limpa e organizada. Seus arquivos digitais e físicos eram os mais bem estruturados do escritório e sua secretária era a mais jovem entre as três que serviam aos atuais seis advogados da associação. Sempre sério e observador em ambiente de trabalho era também um homem saudável, praticante amador de tênis ao qual se dedicava pelo menos em três ocasiões da semana. Seu pai, falecido a alguns anos, sentiria orgulho dele, tinha certeza. Um profissional competente que nos fins de semana visitava a mãe e irmã no interior.
Um homem perfeito, ou quase.
A grande frustração de Tiago era a vida amorosa. Depois de uma juventude cheia de idas e vindas ele enfim havia se apaixonado e vivido o amor, aos vinte e dois anos. Uma mulher inteligente e de bom gosto, bela e gentil que o encantara de todas as formas que é possível fazer a um homem. O advogado planejou pedí-la em casamento, mesmo que eles mal tivesse completado um ano de namoro. Para ele não haviam motivos para esperar pois não seria possível encontrar tal sentimento de admiração novamente por outro alguém. Porém isso não dependia apenas da sua vontade.
Clarisse recusara seu pedido de casamento. Mesmo ele tendo se preocupado em levá-la ao restaurante mais caro e romântico da cidade, pedido o melhor vinho e escolhido a mesa mais discreta. Ela não apenas recusara como também rompera o relacionamento deles na sequência.
Tiago jamais esquecera o momento. Clarisse falara qualquer coisa que soara como um “não é você, mas eu não estou pronta para isso”, levantara e dissera “melhor pararmos com isso por aqui” e saira sem dizer mais nada. Não havia sequer lamentação nos olhos daquela que ele já considerava o grande amor da sua vida.
Mesmo que já tivesse passado quase três anos desde aquela noite de fracasso ele ainda se perguntava onde afinal havia errado. Seria sua culpa que as coisas tivessem terminado daquela maneira tão abrupta?
― Tiago? Você tá dormindo, cara? ― chamou uma voz distante. ― Cara?
Tiago despertou das suas lembranças. Levou alguns segundos para reconhecer o barzinho e também o homem sentado no banco do outro lado da mesinha de madeira. Ricardo o observava com uma expressão perplexa:
― Ah, desculpa. ― disse ele finalmente. Só então suas lembranças de ter chamado o antigo conhecido para tomar umas cervejas. ― Eu acabo ficando meio distante quando lembro desse assunto.
― Se você fica mal quando pensa no que aconteceu, por que me chamou aqui para falar da Clarisse de novo? ― perguntou Ricardo, servindo o copo já vazio do advogado. Aquela era apenas a segunda cerveja que tomavam.
― É que eu não consigo esquecer! Eu preciso entender para conseguir superar! ― exclamou Tiago, pegando o copo e bebendo todo o conteúdo de uma só vez. Ricardo suspirou e o serviu de novo antes de pegar seu próprio copo.
― Olha, eu já tô cansado dessas suas lamentações infinitas. ― começou Ricardo, com a testa franzida. ― Já fazem o que? Quatro anos? A Clarisse já teve meia dúzia de outros namorados e você ainda está lamentando aquela noite!
― Eu sei que você é a única pessoa que pode me esclarecer tudo o que aconteceu, Ricardo. ― acusou Tiago, apontando o indicador para o outro. ― Você é o “melhor amiguinho viado” da Clarisse. É óbvio que você sabe tudo sobre ela!
― Cara. . . ― começou Ricardo, perdendo a paciência bem rápido. ― Não me importo que me chame de viado, afinal é verdade. Só não use essa palavra com esse tom debochado.
― Desculpa, desculpa! Tô só irritado! Só isso! ― esbravejou Tiago, desabotoando os punhos da camisa com irritação. Porém ele já havia feito o jornalista perder o controle sobre as palavras.
― Pra começar nós dois nos conhecemos numa festa gay, você deve se lembrar muito bem. Então não é nem justo ficar me chamando de viado assim quando você não é muito diferente!
― Pera lá! ― Tiago também estava perdendo os limites da conversa. ― Isso faz muito tempo! E eu era bi, não gay. Tanto que o amor da minha vida é a Clarisse! Faz tanto tempo que não fico com um cara que estou quase “prescrevendo” desse meu lado.
Ricardo deu uma risada rouca quando ouviu aquilo. Foi uma sorte, pois isso aliviou também um pouco da sua raiva, substituindo pela vontade incontrolável de destruir algumas ilusões do outro:
― Você é a bicha mais sem noção que eu já conheci, Tiago. Tão cega que não é capaz nem de perceber que ninguém deixa de ser viado por “falta de prática” nem de entender de uma vez por todas que você nunca foi o “lance” da Clarisse. ― explodiu Ricardo, falando com o maxilar apertado.
― Opa, opa, opa! O que você disse?! ― surpreendeu-se Tiago, despertando da sua exasperação, tamanho o sobressalto.
― Sobre você ser uma bicha?
― Não! Sobre a Clarisse!
Foi então que Ricardo deu-se por conta do que dissera e numa reação automática deu um tapa na própria testa. Se tinha um defeito que ele não possuia era o de ser fofoqueiro, porém toda a sua lealdade havia desmoronado em um instante de fúria. Agora o estrago estava feito:
― Anda, explica isso aí, Ricardo. ― exigiu Tiago.
― Cara. . . ― começou Ricado, coçando atrás da orelha e se enclinando para trás. O redator considerou em sair correndo, porém sabia que o outro tinha o físico muito mais preparado e terminaria por alcançá-lo. ― A Clarisse é completamente gay. As únicas pessoas que ainda não sabem disso são você e ela mesma.
― A Clarisse. . . ― começou Tiago, a boca ficando aberta à guisa de espanto, sem que ele conseguisse concluir a frase. ― Ela. . . Ela. . . Mas. . . Não pode.
― Como assim “não pode”? ― estranhou Ricardo, erguendo uma das sobrancelhas.
― Nós transamos várias vezes. ― disse Tiago, usando um argumento que fez as entranhas do outro revirarem em revolta.
― E parece que ela curtiu tanto que te dispensou sem nem pensar duas vezes. ― atacou Ricardo. ― Se liga, cara!
Tiago balbuciou mais uma série de coisas desconexas, parecendo não conseguir formar um novo argumento sem que algo o destruísse antes de ele poder enunciá-lo. Ricardo aproveitou o momento para esfriar um pouco a cabeça com um copo de cerveja e então retomou a conversa com mais paciência:
― Tem gente como você, Tiago, que fica plenamente satisfeito com as duas coisas. ― disse o redator, sentindo-se um professor de Ensino Fundamental, da aula de sociologia ou qualquer coisa semelhante. ― Mas tem gente como nós, eu e a Clarisse, que mesmo que façam com alguém do outro sexo e mesmo gostando, sempre vai sentir que tem alguma coisa errada. É por isso que somos o que somos.
― Você disse que ela não percebeu isso, não disse? ― perguntou Tiago, enfim conseguindo articular uma sentença completa.
― Na real ela é muito boa de se enganar, é o que eu acho. Às vezes sinto vontade de jogar a verdade, mas fico preocupado com a reação dela. ― confessou Ricardo. ― Me preocupo mesmo. Quanto mais o tempo passar mais difícil pode se tornar pra ela aceitar. A gente vai envelhecendo e adquirindo os preconceitos do mundo.
― E eu nunca suspeitei. ― disse Tiago, parecendo mergulhado mais uma vez em seus devaneios. Estava tentando recordar de qualquer situação onde poderia ter ficado evidente aquele fato, mas nada lhe vinha ao pensamento.
― Será que agora você é capaz de desencanar? ― perguntou Ricardo, depois de acenar para o balcão do bar pedindo mais uma cerveja.
― Acho que sim.
― Sério? Você é mesmo pragmático. ― surpreendeu-se o jornalista.
Os dois homens continuaram bebendo até esvaziarem a terceira garrafa. Não conversaram muito nesse meio tempo. Ricardo permitiu ao outro vagar por sua lembranças em busca de comprovações. Na verdade ele mesmo estava um tanto perdido em devaneios, enquanto fintava o advogado sem disfarce. Quando terminou o último gole de bebida, Ricardo sem aviso levantou-se e atirou algumas notas no centro da mesa, pagando sua parte na conta:
― E sobre aquilo de “prescrever”, acho que você só ainda não encontrou um cara legal que vai te tirar da linha heteronormativa de vez. ― disse, virando e saindo sem se despedir.






Os dias estavam ficando mais quentes com a aproximação do verão. Nas ruas as decorações de natal já começavam a ser vistas. O calendário do comércio era pontual em começar suas campanhas, na segunda-feira seguinte ao Dia das Crianças.
Clarisse estava atribulada com todas as tarefas inesperadas que recebera. Com a saída de um importante editor por motivos de saúde o seu chefe direto havia sido promovido e a redatora, uma das suas pessoas de confiança, ganhara uma série de responsabilidades com relação à edição especial de final de ano da Revista. Ainda que ela estivesse feliz pela oportunidade o peso das novas responsabilidades como assistente direta do novo Editor Chefe estavam a desgastando em demasia.
“Woa! Isso está ótimo, Alex!” Clarisse ouviu a voz familiar do chefe exclamar do outro lado da redação. Sem perceber a redatora parou a escrita de um e-mail e virou o olhar para enxergar o que acontecia. Ela viu a fotógrafa e o editor sentados à mesa deste:
― Sem falsos elogios, Valter. ― disse Alex.
― Não é falso. Era exatamente o que estávamos procurando para a capa. ― disse Valter, um homem de meia idade e já um pouco calvo. ― Só um instante. ― disse, vasculhando com os olhos a redação. Para a surpresa de Clarisse ele sorriu quando cruzou os olhos com os dela. ― Clarisse! Vem aqui mulher! Temos uma nova capa!
Clarisse levantou e cruzou entre as baias o mais rápido possível, apesar do desconforto. Já fazia quase um mês desde que Alex assumira sua função como fotógrafa na editora, porém as duas mal tinham trocado alguns pares de cumprimentos naquele meio tempo. A presença da amiga ainda era algo que desconsertava Clarisse um tanto. Ainda assim esta tentou parecer o mais profissional o possível quando chegou até Alex e Valter:
― Clarisse. Dá uma olhada nisso aqui. ― disse Valter, passando uma folha para a assistente e redatora. ― Me diz se não é perfeito!
― Está ótimo mesmo. . . ― disse Clarisse, observando os detalhes da imagem. ― Você fez a edição, Alex?
― Ah, sim. A gente tem que saber se virar com essas coisas, pra não ficar tão dependente dos designers. ― disse a fotógrafa, sorrindo.
― Está decidido. Não vou fazer outra reunião só para isto. ― sentenciou Valter, animado.
― Mas, senhor, a capa já não havia sido aprovada? Não acho que o Gustavo vá gostar de ser tirado assim. ― alertou Clarisse.
― Ai, ai. Eu sei disso, Clarisse. ― disse Valter, franzindo a testa. ― Eu mesmo vou falar com o Gustavo. A questão é que não podemos deixar de usar uma arte melhor por causa do ego de um dos nossos artistas. Ele é ótimo e vai ter muitas outras capas no futuro.
― Eu só estava alertando, senhor. Também acho que devemos usar esta. ― corrigiu-se Clarisse. Mesmo sem virar-se ela pode sentir o olhar de Alex sobre si quando disse isto.
― Certo, certo. Obrigado por isto, Clarisse. ― disse Valter. ― Alex, deixe-me cumprimentá-la por sua primeira capa logo no primeiro mês conosco! ― completou ele, estendendo a mão que foi prontamente correspondida pela fotógrafa.
― Muito obrigada, Valter. Valeu mesmo! ― disse Alex, só sorrisos.
Percebendo o final da mini-reunião, Clarisse despediu-se e saiu da redação para ir à pequena sala anexa, onde ficava o café. Àquela hora, pouco antes do almoço, o local costumava estar vazio. Depois de servir-se de uma dose generosa da bebida, a redatora recostou-se ao lado da janela e desfrutou um pouco da brisa do exterior. Ela estava de costas para a porta quando ouviu o estalo desta ao ser aberta:
― Ah, você está aqui.
Clarisse virou o rosto na direção da entrada ao perceber a voz de Alex. A fotógrafa deixou a porta atrás de si fechar antes de mexer-se:
― Oi, de novo. ― cumprimentou Clarisse, acenando com o copo. Alex foi até a cafeteira para servir-se. Nenhuma das duas falou até a fotógrafa apoiar-se também na janela para observar a paisagem urbana.
― Você anda bem cheia de serviço, não é? ― comentou esta.
― Pois é. Espero que meu contracheque seja correspondente a essa trabalheira. ― disse Clarisse. Alex deu uma risada desse comentário.
― Ainda acho que você e o Valter estão conspirando para tentar aumentar meu ego. Capa logo no primeiro mês. . .
― Nada disso. Eu achei sua imagem excelente. Não sabia que você editava naquele nível. ― confessou Clarisse com sinceridade. A outra nada respondeu a isto, mas deixou escapar um sorriso orgulhoso.
O silêncio predominou novamente enquanto ambas apreciavam as bebidas. Clarisse foi a primeira que terminou o café e num movimento atirou o copo descartável na lixeira discreta ao lado do pequeno balcão onde estava a cafeteira. Alex parecia estar esperando aquele momento:
― Então, Clarisse, eu estava pensando. . . ― começou a morena, ainda observando a paisagem. ― Será que você não quer dar umas voltas qualquer dia desses? Desopilar dessa montanha de serviço. ― convidou Alex. Clarisse gaguejou alguma coisa antes de responder.
― Quem sabe, né, seria bom. A gente fala com o Ricardo. Ele conhece uns lugares muito bons. ― comentou Clarisse transparecendo um tanto de nervosismo.
― Não. ― cortou Alex.
― Não? ― repetiu Clarisse, sem entender. A morena então tirou os olhos dos prédios e encarou a expressão interrogativa da outra.
― Quis dizer que nós duas poderíamos dar umas voltas. ― explicou Alex, a expressão séria, encarando os olhos amendoados de Clarisse sem sequer piscar.
― A-Ah. . . ― murmurou Clarisse, em entendimento.
― Tem uma cafeteria na zona norte que parece ótima. Uma amiga me indicou. ― comentou a fotógrafa, desanuviando um pouco a expressão.
― Sei. . . ― disse Clarisse, parecendo atordoada. ― B-Bom, então depois combinamos! Só me passar uma mensagem mais tarde que a gente vê os detalhes, ok? ― continuou ela, ajeitando-se com pressa e tomando o caminho da porta.
― Clarisse.
― Sim? ― perguntou esta, virando-se.
― Você não me passou seu número ainda. ― Alex pareceu divertir-se diante do nervosismo óbvio de Clarisse.
― É mesmo! Também não tenho o seu. ― disse Clarisse, sacando o celular. As duas trocaram os números e a redatora saiu dando apenas uma guisa de “até depois”.
Para Alex foi o suficiente.

5 Responses so far.

  1. capitulo bem morno mesmo, mas não cansativo. Pelo visto está sendo construído um background maior nessa história. Pelo visto serão mais partes do que eu imaginava.

    also "E parece que ela curtiu tanto que te dispensou sem nem pensar duas vezes."

    Essa doeu até em mim.

  2. Anônimo says:

    Ahhhhh quero ler mais. Amando a sua história, parabéns. Aguardando o próximo cap*.*♡

    by:cli-chan

  3. Anônimo says:

    Concordo que foram palavras dura vindo de um amigo, mais achei necessário. A final ele precisava de um tapa para poder desencanar ^^

    By:cli-chan

  4. Anônimo says:

    Estou gostando muuito do conto, mal posso esperar pelo próximo "capítulo".
    apenas gostaria que arrumassem o "agente" dos contos, apesar de ser um erro comum no português, incomoda um pouco.

  5. Anônimo says:

    Nossa, vcs realmente levaram meu comentário sobre o "agente" a sério?! poxa, agora gosto muuuito mais do blog, vcs levam em consideração as críticas dos leitores, isso demonstra responsabilidade e maturidade, estão de parabéns ;)
    E agora o conto está perfeito, obrigada :D

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